Capítulo 25 O Componente Estocástico

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25.1 Introdução

Em diversas situações assumimos que uma determinada variável é distribuída aleatoriamente, ou seja, de maneira totalmente casual, sem que haja qualquer fator determinante daquela variação e que seja capaz de explicar o mecanismo de variação. A utilização da grande maioria das ferramentas estatísticas exige que as variáveis sob análise possuam tal comportamento para que os resultados obtidos não sejam espúrios ou enganosos. Isso não é diferente quando lançamos mão da pedometria para o estudo da distribuição espacial do solo e entendimento de seus atributos.

Entretanto, alguns pesquisadores rejeitam a possibilidade de que os atributos do solo possam ser tratados como variáveis aleatórias. Isso porque o solo é, conforme estabelecido pelo paradigma da relação solo-paisagem, resultado da ação dos agentes intempéricos sobre o material de origem, sendo condicionados pela geomorfologia e pelo tempo. Ao nível molecular, podem ser listadas todas as reações físico-químicas responsáveis pela transformação do material de origem em solo. Sob essa perspectiva limitada, o uso de métodos probabilísticos para o estudo da distribuição espacial do solo e de seus atributos é equivocada.

O raciocínio lógico descrito é bastante plausível. Entretanto, é resultado do exercício de um paradigma científico distinto daquele utilizado pela comunidade pedométrica. Por esse motivo o desentendimento. Enquanto a geração mais velha de cientistas do solo utiliza o método dedutivo nomológico para responder às perguntas científicas, de caráter predominantemente qualitativo, a nova geração de cientistas do solo utiliza métodos quantitativos, parcialmente determinísticos, parcialmente probabilísticos, tomado como indutivo estatístico. Deixadas de lado as vantagens e desvantagens da abordagem quantitativa em relação à abordagem qualitativa, é necessário entender como é possível assumir que o solo e seus atributos possam assumir variação aleatória.

25.2 Jogos de azar

Os melhores exemplos para entender a teoria estatística e as probabilidades vem dos jogos de azar. Talvez porque boa parte do desenvolvimento desses campos do conhecimento humano ocorreu devido à necessidade de encontrar respostas aos problemas encontrados nos jogos de azar.

Tomemos como exemplo um jogo de dados. Lançados os dados sobre a mesa, temos uma determinada configuração. A configuração observada é resultado de uma série de fatores determinantes:

  • O copo em que os dados estavam contidos e em que foram agitados (volume, altura, largura, material, relevo etc);
  • O número de dados utilizados;
  • As características dos dados (densidade, tamanho, material, relevo etc);
  • A forma de agitação dos dados (número, direção e intensidade dos movimentos do braço);
  • A forma como o copo é girado sobre a mesa;
  • As características da mesa (material, relevo, inclinação etc);
  • As condições atmosféricas de temperatura, umidade e pressão;
  • Etc.

Note que o número de fatores determinantes é enorme, sendo bastante possível que tenhas encontrado algum outro de grande importância. Mas note também que a interação entre esses fatores é tão complexa e diversa, que é impossível estabelecer um modelo determinístico que possa prever o resultado de um jogo de dados. Melhor assumir que o resultado é pura e simplesmente aleatório.

O mesmo ocorre com o solo e seus atributos: o número de fatores determinantes, por exemplo, da distribuição de mosqueados ao longo do perfil é tão grande que, eliminado o efeito de algum fator principal (a profundidade do lençol freático, por exemplo), a variação pode ser considerada pura e simplesmente aleatória.

O exemplo do jogo de azar se presta muito bem para explicar a teoria probabilística utilizada pela comunidade pedométrica. Entretanto, essa mesma comunidade entende e reconhece que não há nada de aleatório no solo. Então porque assumir essa aleatoriedade? Simplesmente porque ainda não fomos capazes de desenvolver modelos determinísticos ou mecanísticos que expliquem a variação do solo. Assim, trata-se apenas de uma limitação tecnológica, cuja resolução deverá ficar em aberto por mais alguns anos.